Instituto Euvaldo Lodi

Saúde mental para o bom desenvolvimento do trabalho nas corporações

Estamos vivendo na Era da Tecnologia, da Comunicação e Conectividade, mas do que adianta tudo isso, se a saúde mental não anda bem! Por isso, esse é um tema que tem gerado tantas discussões, já que as empresas estão entendendo a sua importância, e estamos buscando formas de tornar o ambiente corporativo mais saudável.

Desde a pandemia, a saúde mental teve um declínio, principalmente na população brasileira, com uma queda de 53%, de acordo com o Instituto Ipsos. Logo, podemos concluir que mais de 50% dos brasileiros foram acometidos por algum tipo de problema relacionado com a saúde mental. Esse é um número preocupante, e assustador! Onde, a responsabilidade é de todos que esse número seja revertido, e que ações sejam tomadas, para proteger a saúde dos colaboradores e de toda a população.

Mas para isso, precisamos conhecer um pouco mais sobre o tema, e entender o que pode ser feito!

Quando falamos em saúde mental no trabalho, do que se trata?

A saúde mental é um termo amplo, mas que se refere aos impactos que são causados por uma determinada situação no psicológico de cada pessoa. Ou seja, manter a saúde mental em dia é manter a qualidade de vida, ter equilíbrio nas emoções e na cognição. Dessa forma, é possível lidar bem com situações variadas, e adversidades apresentadas pela vida – que podem acontecer a qualquer momento. E nessa temática, a situação que nos referimos é sobre o ambiente corporativo.

A carga mínima de trabalho é de 8 horas, considerando um contrato CLT. Dessa forma, um terço do dia é vivido no trabalho. É bastante tempo, não é mesmo? E é justamente por isso, que existe a necessidade de se manter um ambiente saudável mentalmente para os colaboradores. O tempo que se passa na empresa é muito menor do que com a família ou em casa descansando, por exemplo. E isso, sem considerar o tempo de deslocamento, os riscos envolvidos no trajeto e toda a preocupação diária.

E para os colaboradores que estão em home office, ainda existe uma preocupação maior, já que não existe interação com outras pessoas fisicamente. Logo, não existe a oportunidade de troca de informações, conversas e descontrações. A saúde mental é tema prioritário e precisa ser levado a sério nas empresas, já que a manutenção da saúde mental dos colaboradores é responsabilidade da empresa.

Os números sobre saúde mental indicam a sua importância

No Brasil, os transtornos causados pela saúde mental em baixa já estão em terceiro lugar no ranking dos mais procurados para perícias médicas no INSS. A depressão ocupa o primeiro lugar no ranking brasileiro. Uma estimativa preocupante é que daqui a 10 anos, os transtornos relacionados a saúde mental estejam no topo no ranking de motivos para afastamentos e perícias médicas no INSS. Os dados foram divulgados em um estudo pela própria instituição, o Instituto Nacional de Seguro Social – INSS.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2012, pelo Journal Information Plos One, a metrópole paulista possui o maior índice de problemas relacionados com a saúde mental de todo o mundo! Praticamente 30% da população paulista possui algum tipo de transtorno mental. Em relação aos números estrangeiros, eles também são preocupantes: na Europa, o estresse é o segundo transtorno mais recorrente no ambiente corporativo, perdendo apenas para os transtornos musculoesqueléticos.

Por todos esses números, e a crescente preocupação com a saúde mental, a OMS – Organização Mundial da Saúde, incluiu a saúde mental como uma síndrome listada como doenças relacionadas ao trabalho.

Quais são os fatores que afetam a saúde mental dos colaboradores?

Existem inúmeros fatores que podem causar influências na saúde mental, principalmente problemas no âmbito pessoal. Pense em como um pai pode trabalhar tranquilamente sabendo que seu filho está internado, por exemplo. Como ele poderá desempenhar suas atividades profissionais com o mesmo rendimento? Além disso, toda a família estará mobilizada em função da criança, causando uma desestabilização generalizada. Porém, existem empresas que ainda não trabalham a empatia no ambiente corporativo, o que pode agravar mais ainda a questão da saúde mental.

De acordo com pesquisa feita pela Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, algumas situações que podem elevar os riscos de causar transtornos mentais, são:

● Volume excessivo de trabalho;

● Limitações em relação ao tempo de entrega;

● Exigências que não fazem sentido ou que são contraditórias;

● Falhas na comunicação;

● Ausência de transparência sobre expectativas;

● Mudanças não gerenciadas.

Como na Europa a maior incidência de saúde mental é relacionada ao estresse, a Ocupacional Safety and Health Association (OSHA), relacionou percentualmente as 3 principais causas de estresse no trabalho, ilustradas abaixo. Nesse mesmo estudo, 40% dos entrevistados relataram que não existe uma preocupação e um cuidado em relação ao estresse no ambiente corporativo.

Criar uma cultura organizacional orientada à promoção da saúde mental é essencial para resguardar os colaboradores, e melhorar os resultados da empresa. E até mesmo para reduzir as taxas de turnover, absenteísmo e índices de acidentes trabalhistas.

Outros cenários psicossociais que podem causar danos à saúde mental dos colaboradores:

● Ausência de uma rede de apoio corporativo (o que inclui liderança e companheiros de equipe);

● Relações interpessoais complexas e de difícil trato;

● Agressão e assédio;

● Dificuldade na conciliação de horários nos compromissos pessoais e profissionais.

Tudo isso contribui para aumentar os riscos de ter colaboradores doentes, aumentar a instabilidade nas relações trabalhistas, e equilíbrio desbalanceado nas relações família/trabalho.

A saúde mental também causa prejuízos para a empresa

O colaborador é o principal afetado em decorrência do surgimento de problemas de saúde mental. No entanto, os impactos são vivenciados também pela empresa, que é a causadora do problema. Ter um colaborador com transtornos, traz inúmeras consequências para a empresa, como:

● Aumento do índice de faltas;

● Gastos elevados com plano de saúde;

● Relações desgastadas no ambiente corporativo;

● Baixa produtividade;

● Aumento das horas extras.

Esse conjunto de fatores pode prejudicar bastante as metas e objetivos das empresas, principalmente porque haverá um aumento das despesas em geral, onerando a saúde financeira da companhia. E como consequência pela baixa produtividade dos colaboradores, as metas não serão cumpridas, prazos serão perdidos e clientes estarão insatisfeitos, gerando uma verdadeira bola de neve de problemas.

Além disso, ainda temos um agravante, que é o surgimento da Síndrome de Burnout também chamada de Síndrome do Esgotamento Profissional, que também está classificada como uma doença relacionada a saúde mental. O Burnout carrega características de duas das principais doenças da atualidade: a ansiedade e depressão. Para os colaboradores, os sintomas são devastadores. E para as empresas, a baixa em seus resultados também demonstra os impactos que são causados pela síndrome. A elevação dos índices de absenteísmo na empresa, que é a quantidade de ausências, gera muitos custos para uma empresa, como a reposição das atividades, cuidados com o colaborador, entre outros. Dependendo do profissional e das atividades desempenhadas, não será possível substituí-lo para o exercício da função, prejudicando toda uma cadeia de produtividade.

A empresa pode SIM ser responsabilizada por danos à saúde mental dos colaboradores

Antes da CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas, existe a previsão na Constituição Federal que é direito humano básico a garantia da saúde. Dessa forma, a saúde mental é entendida como um direito constitucional.

O conjunto de normas de Medicina e Segurança no Trabalho garante que o colaborador tenha:

“Direito a um ambiente de trabalho seguro”.

Dessa forma, o ambiente de trabalho seguro também está relacionado a um ambiente saudável. Já na CLT, temos o Art. 223, que trata sobre reparação de danos de natureza extrapatrimonial decorrente das relações trabalhistas que estão relatadas no capítulo.

Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas do direito à reparação.

Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a autoestima, a sexualidade, a saúde, o lazer e a integridade física são os bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa física.

Art. 223-D. A imagem, a marca, o nome, o segredo empresarial e o sigilo da correspondência são bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa jurídica.

Logo, a empresa pode ser responsabilizada por danos à saúde mental dos seus colaboradores. Além de ser sua responsabilidade, é sua obrigação legal a garantia de um ambiente saudável de trabalho.

Síndrome de Burnout x Saúde Mental

O Burnout é uma doença que surge após o profissional ser submetido a situações constantes que geram desgaste, com responsabilidades excessivas ou ambientes tóxicos. Existem profissões que estão mais relacionadas com o desenvolvimento da síndrome, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, policiais, bombeiros e jornalistas. No entanto, qualquer profissional pode desenvolver a síndrome, basta ter atuação em um ambiente prejudicial para a sua saúde, com muita pressão. O excesso de trabalho e de cobranças é um dos principais motivos para que a síndrome se manifeste.

Além dos sintomas que citamos acima, temos ainda:

● Esgotamento físico e mental;

● Alterações bruscas no humor;

● Dificuldade para dormir;

● Sentimentos contrastantes;

● Hipertensão;

● Batimentos cardíacos acelerados;

● Fadiga;

● Dores pelo corpo;

● Desenvolvimento de sentimentos pessimistas;

● Enxaqueca;

● Inseguranças;

● Problemas no trato gástrico e intestinal.

Apesar de ser uma doença de cunho mental, ela causa inúmeras doenças físicas, e que também necessitam de tratamento. O Burnout requer tratamento especializado, começando com uma avaliação de um psiquiatra e psicólogo, para se ter o diagnóstico mais adequado. O uso de medicações pode ser recomendado, além do afastamento do ambiente de trabalho.

Quais são as ações que podem ser promovidas nas corporações em relação à saúde mental?

Você já ouviu alguém falar que trabalha por obrigação? Ou por que trabalha porque precisa pagar as contas? Se identificou com algumas dessas falas, mesmo que seja por ouvir repetidamente? Pois é, isso é sinal claro de que o ambiente de trabalho vivenciado pelos profissionais responsáveis por essa fala é tóxico, e desagregador.

Trabalhar sob pressão, com líderes despreparados e sem empatia, pode gerar desconfortos e relações trabalhistas complexas, comprometendo as entregas, a equipe e a empresa. No entanto, existem ações que as empresas podem promover para garantir um ambiente mais inclusivo, acolhedor e participativo.

Conheça algumas iniciativas a seguir:

● Palestras sobre medicina preventiva e saúde mental;

● Incentivo à colaboração entre colaboradores e equipes;

● Manter o diálogo constante (entre líderes, colegas de equipe, e entre as equipes – mesmo em home office);

● Incentivar uma alimentação saudável (disponibilizar alimentos saudáveis e gratuitos nos escritórios, além de outras ações de incentivos);

● Modificações na gestão de ponto (de forma que melhore a produtividade e reduza as horas extras);

● Treinamentos para gestores (focado na manutenção de um ambiente saudável);

● Orientar e promover uma comunicação não violenta nas empresas.

Dessa forma, a implementações de ações simples e de programas acessíveis aos colaboradores, asseguram a transformação de um ambiente tóxico para um ambiente em evolução, caminhando para se tornar mais saudável para todos.

Tenha um programa de saúde mental

É de interesse da empresa que os colaboradores estejam com uma boa saúde mental. E isso pode ser alcançado por meio de planos de ação:

Dessa forma é possível identificar, mapear e tratar tais insatisfações. Nesse resultado, poderão ser analisados duas vertentes:

● Insatisfações de cunho trabalhista;

● Insatisfações na cultura organizacional.

As necessidades relacionadas ao cunho trabalhista, como um plano de cargos e salários, melhoria de benefícios e do salário devem ser discutidos pelo RH com a liderança da empresa. No entanto, as necessidades que estão atreladas à cultura organizacional, precisam ser revisitadas e analisadas, para saber quais são as ações que devem ser implementadas. Tais ações pode girar em torno de:

● Redução da carga horária trabalhada diariamente;

● Limitar as horas extras (e agir conforme a Lei Trabalhista);

● Incentivar atividades físicas;

● Oferecer espaços de descompressão e descontração para os colaboradores;

● Ter uma rotina mais leve e descontraída no escritório;

● Ser flexível.

Mas apenas essas ações bastam?

Não! Essas ações são importantes e necessárias. No entanto, a empresa precisa ter um programa completo de saúde mental, que comtemple as melhorias e atue de forma contínua para assegurar os cuidados com o colaborador. Por isso, veja a seguir, algumas ações que podem ser implementadas dentro do programa de saúde mental na empresa.

Incentive a prática de atividades físicas

Praticar atividades físicas possui um papel muito importante no processo de manter o corpo e a mente saudáveis. Ajuda a aliviar a pressão diária, oferecendo uma distração para a mente e reforçando o corpo e os músculos. Dessa forma, a empresa pode promover essa prática tanto dentro do ambiente corporativo, por meio de atividades laborais recorrentes, quanto incentivar a prática de atividades físicas fora da empresa. Um meio relevante de incentivo é oferecer um programa de descontos em academias da região ou próximas à residência do colaborador, para que ele possa escolher a atividade que tem mais afinidade e com um preço mais interessante.

Ofereça apoio aos colaboradores

Independente do segmento de atuação da empresa, existem setores que sofrem mais pressão do que outros, principalmente os setores administrativos e financeiros. Por isso, é importante que todos os colaboradores contem com uma rede de apoio psicológico dentro do ambiente corporativo. É possível manter uma psicóloga de plantão para oferecer ajuda nos momentos mais difíceis, possibilitando que o colaborador converse um pouco para aliviar o estresse e a ansiedade. Ou ainda contar com um benefício de auxílio psicológico, para que ele possa pagar um terapeuta que o acompanhe continuamente.

Tenha canal ativo de feedback

O diálogo é uma das principais ferramentas de melhoria contínua que pode ser implementada em uma empresa. Mas para isso, a empresa precisa criar essa cultura com a liderança e seus colaboradores. A liderança precisa estar disposta a ouvir seus colaboradores, desde sugestões de melhorias nas entregas das atividades, das rotinas e entregas, às reclamações sobre problemas de relacionamento, assédios e situações mais delicadas, que requer medidas mais direcionadas. A empresa deve contar com um canal de ouvidoria interna para apurar as denúncias mais delicadas, e verificar as responsabilidades. Dessa forma, o colaborador entenderá que sua voz está sendo ouvida por todos. Além disso, a cultura do feedback reduz os impactos causados na saúde mental, já que ele poderá falar o que incomoda.

Investir na saúde mental do colaborador vale a pena!

A saúde mental não pode ser vista como um custo adicional para a empresa, mas sim como uma forma de investimento rentável e muito lucrativo, onde um colaborador saudável mentalmente pode produzir mais e com qualidade. Diferente de um colaborador com saúde mental em baixa, que não consegue se concentrar e está com a atenção prejudicada. O investimento em ações para promover a saúde mental possibilita a criação de um ambiente muito mais produtivo, colaborativo e integrador. Vale a pena investir na saúde mental do colaborador!

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